sábado, 5 de maio de 2012


Gestão do conhecimento pessoal

Gerenciar a construção de conhecimentos com o apoio de tecnologias da Web 2.0 faz parte das competência que precisamos desenvolver, portanto, torna-se oportuno compartilhar a palestra proferida por Pierre Levy, seguida da transcrição adaptada (Quadro 1), com o título “Do hipertexto opaco ao hipertexto transparente”. A palestra ocorreu no final de 2010 durante o Simpósio Hipertexto 2010 na UFPE em Recife-PE. Na oportunidade, Levy apresentou nove etapas as quais denominou de Ciclo da gestão do conhecimento pessoal.


Quadro 1 - Gestão do conhecimento pessoal.

Todos ou quase todos estão conectados (tecnologias de apoio à formação de redes sociais, acesso a repositórios de informação, ...) e também pode se interconectar e dispor de um "enorme fluxo de informação", sem, no entanto, estarmos seguros do que poderemos fazer com este imenso "mar de informações".


A primeira meta é aprender como ter atitude responsável diante deste fluxo de informação. É uma nova situação, porque, antes do cenário atual, tínhamos poucas instituições ou entes (igreja, escola, ...) como detentores e responsáveis pela disseminação de informações. Uma alternativa para que possamos desenvolver a responsabilidade citada passa pela gestão do conhecimento pessoal, que pode ser estruturado em nove passos, conforme síntese a seguir.


Ciclo da gestão do conhecimento pessoal


1º passo: Gerenciar a atenção


Caracteriza-se pelas seguintes ações:


  • descrever para si mesmo qual será a sua área de expertise
  • definir os interesses
  • delimitar o que você quer aprender
  • definir prioridades



Se você não sabe o que você quer e o que quer aprender, você não irá a lugar nenhum. Uma vez que você tenha definido o que quer aprender, você tem que se manter focado, porque o ambiente é muito disperso, há uma grande quantidade de informações surgindo a todo o tempo e de toda a parte, você tem que confiar em suas próprias escolhas e manter o seu trabalho dentro do que você definiu como prioridade. No entanto, você não tem que ficar unicamente focado, é preciso abrir um pouco mais a sua mente para entender o quadro geral, para entender o contexto, para entender o movimento do mundo ao seu redor e a evolução da cultura.


Estes são os princípios da gestão da atenção, necessários para o estabelecimento da conexão com fontes confiáveis.



2º passo: Conectar-se a fontes confiáveis


A preocupação deverá ser com fontes e não com plataformas ou mídias, como, por exemplo: Youtube, Wikipédia, Facebook, Google +, etc., pois o ambiente é multiplataforma e multimídia. O que são importantes são as fontes e as fontes são as pessoas e instituições que podem se expressar em diferentes plataformas digitais. Você deve decidir em que pessoas e instituições vai confiar e não há instâncias exteriores ou autoridades que possam dizer "isto é bom" ou "isto é ruim", "isto é verdadeiro" ou "isto é falso", você tem que aprender a sentir, a reconhecer, a perceber o que é ou não relevante para você.



3º passo: Coletar e agregar


Coletar todas as informações das fontes que você escolheu a partir da definição de suas prioridades. Coletar toda a informação para que possa ser filtrada.



4º passo: Filtrar


Você já filtrou as fontes, mas o que está vindo das fontes tem que ser novamente filtrado, porque, no mar de informações, poderão existir aquelas que não são relevantes para você, então é necessário filtrar novamente. Esta noção de filtragem é muito importante.


Existem diferentes tipos de filtragem automática, como sistemas de recomendação de informação (Social Recommender System) ou sistemas de filtragem de informação (Social Filtering Systems), como, por exemplo, Amazon, Youtube, Facebook, ... - as plataformas recomendam para você livros, vídeos, pessoas, ... como se dissessem "isto está próximo do seu interesse" - mas você também tem que fazer uma filtragem "manual", ou seja, com sua própria mente.



5º passo: Categorizar


Compreende a categorização, classificação ou organização. Se não categorizar a informação, você não vai se lembrar dela. A memória é baseada na categorização e você não categoriza somente para si, categoriza também para os outros.


O que antes era trabalho dos especialistas, como bibliotecários ou pessoas especializadas em documentação, que organizavam, catalogavam e classificavam documentos, agora esta tarefa cabe a você, cabe a nós, não somos mais somente leitores e/ou autores, também somos bibliotecários, esta é a nova situação, que nos permite fazer parte de uma inteligência coletiva.


Existem muitos sistemas de categorização e o uso de marcadores (tagging) ou hashtags no Twitter é muito comum atualmente.



6º passo: Registrar na memória de longo prazo


Após categorizar, é necessário efetuar o registro na memória de longo prazo. Você pode registrar websites interessantes no Delicious, Diigo, ... ou em outra plataforma de rede social para websites favoritos (bookmarking). Pode usar plataformas como o Zotero, Evernote, Mendeley, Citeulike, ... algumas destas plataformas de memória de longo prazo ou plataformas de organização da informação que são especialmente desenhadas para pesquisadores e acadêmicos.


Todos estes sistemas de memória de longo prazo são, ao mesmo tempo pessoais, sociais ou coletivos, possibilitando que você participe da organização da memória de um grande grupo de pessoas e seja beneficiado com essa organização da informação construída por todas as pessoas que utilizam uma mesma plataforma.


7º passo: Sintetizar


Uma vez que você tenha feito todo este trabalho, é chegada a hora de realizar sínteses. Para sintetizar, você escreve uma postagem em um blog ou aprimora um artigo na Wikipédia.


Você realmente aprende quando faz sua própria síntese, utilizando suas próprias palavras, e suas sínteses deverão ser compartilhadas num espaço coletivo de comunicação, com abertura para que outros possam interagir.


8º passo: Compartilhar e comunicar


Você precisa compartilhar suas sínteses com outras pessoas, assim, você também está entrando na conversação, porque aquilo que escreve em sua postagem no blog ou em um sistema de wiki é lido por outras pessoas e você pode sinalizar a postagem de blog, por exemplo, no Twitter, no Facebbok, no Orkut, no Google + ou em muitas outras plataformas de apoio à formação de redes sociais. É assim que uma conversação começa - pessoas respondem e você começa a responder as respostas e assim por diante. Em termos de comunicação, você pode participar de um tipo de "diálogo criativo", você tem também uma resposta (feedback) sobre suas sínteses. Após criar hábitos de partilha e de comunicação, poderá avançar para a fase da reavaliação.


9º passo: Reavaliar


Este passo é, na verdade, retornar ao primeiro, ou seja, você deverá refletir sobre as seguintes questões: "Minhas prioridades são realmente relevantes?", "Defini meus interesses de forma correta?"; "As fontes que eu escolhi são boas fontes?"; "Há outras fontes interessantes?".

Neste passo, é possível cancelar alguns cadastros e assinaturas, deixar de seguir (unfollow) algumas pessoas - deixar de seguir é tão importante quanto seguir fontes de informação!

Este é o Ciclo de Gestão do conhecimento pessoal, esta é a responsabilidade pessoal de cada um, se é que assim posso dizer. Eu insisto no aspecto pessoal porque, normalmente, as pessoas pensam que eu acredito que a Inteligência Coletiva é algo que está acima de todos nós. Não é bem assim. Ela surge da interação de cognições pessoais, da aprendizagem e comunicação interpessoais, é daí que vem a Inteligência Coletiva, a base é pessoal.

Uma outra visão (Figura 1) para o que foi apresentado por Levy pode ser efetuada, utilizando a perspectiva de um processo desenhado com BPMN (*).


Figura 1 - Atividades para gerenciar o conhecimento pessoal.


(*)  Business Process Modeling Notation (BPMN) (em português Notação de Modelagem de Processos de Negócio)

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